quinta-feira, 2 de abril de 2009

José Reis 1907-2002


Nesta primeira postagem aproveito para colocar um material que será utilizado na apresentação em um encontro de Pós-Graduação em História da Ciência sobre parte do trabalho que desenvolvo junto ao NJR








Núcleo José Reis de Divulgação Científica da ECA/USP


O Núcleo José Reis de Divulgação Científica foi criado pela Portaria ECA-82, publicado no D.O. de 10 de outubro de 1991. A partir de 05/03/2008 vinculou-se à Reitoria pela Resolução USP-5.437, por decisão Conselho Universitário da USP. A partir de sua criação o Núcleo utiliza como denominação Núcleo José Reis de Divulgação Científica da ECA/USP ou a sigla NJR-ECA/USP. Por ocasião de sua criação em 1991 foi formulado um projeto e encaminhado ao CNPq para, inicialmente, pela vida de José Reis, estabelecer fontes básicas para se estudar a linguagem da divulgação científica. Instaura-se neste início, por iniciativa do Diretor da ECA e da Profa. Dra. Glória Kreinz, Coordenadora de Pesquisa do NJR desde sua fundação, um projeto de pesquisa “José Reis: Unidade na Diversidade”, que até os dias de hoje continua ativo, produzindo diversos resultados, entre os quais destacamos a coleção Divulgação Científica, que já publicou 11 livros, e está preparando o décimo segundo; um Boletim Informativo, em seu número 76º; o site do núcleo; um curso de divulgação científica, entre outros produtos ativos.

Com a chegada do Prof. Dr. Crodowaldo Pavan, em 1997, um segundo projeto foi incorporado ao núcleo; trata-se do “Projeto de Pesquisa de Treinamento em Divulgação Científica – PTDC”, que também desenvolverá várias produções. Com a participação do Prof. Pavan o núcleo estabelece-se e sedimenta-se como um órgão de projeção nacional e internacional, dedicado às pesquisas de linguagens das comunicações, voltadas para a Divulgação da Ciência.

Em 1999 o Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho assumiu a coordenação geral e traz como bagagem o Projeto “Por uma Nova Teoria da Comunicação para a Era Tecnológica”, sediado no FILOCOM – Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação, sedimentando as linhas de pesquisas já existentes. Desta maneira foi dado um passo significativo no sentido de formar uma rede de pesquisa, agregando grupos de pesquisadores nacionais e de outros países, estabelecendo relações internacionais sobre produções que abrangem teorias que tratam de tecnologias e novas teorias da comunicação, bem como as relações estreitas que estas fazem com a filosofia, procurando uma adequação da Comunicação/Divulgação com as mudanças estruturais que sedimentam o pensamento, no novo milênio.

Por ocasião da realização do 1.º Congresso Internacional de Divulgação Científica da USP, que contou com a participação da UNESCO, por meio do seu representante para publicações, o Prof. Dr. Célio da Cunha, foi formulado um acordo para a criação no seio do núcleo da primeira Cátedra UNESCO de Divulgação Científica e a consolidação da rede internacional de grupos de pesquisa voltados para as pesquisas de linguagens comunicacionais apropriadas à Divulgação Científica. O NJR formulou e enviou o Projeto que foi aprovado, tornando o núcleo Cátedra UNESCO José Reis de Divulgação Científica da USP a partir de 10 de maio de 2006.

Quando era vivo José Reis tratava carinhosamente o NJR de “nosso núcleo”, e sempre expressava vontade de que a sua biblioteca e documentos de pesquisa fossem incorporados a essa iniciativa de estudiosos de Divulgação Científica sediada e vinculada à Universidade de São Paulo, a qual ele tanto se dedicou para se consolidar como entidade autárquica. Essa atitude fechava um ciclo que se iniciou nos anos de 1940, quando por sua iniciativa transferiu para a USP a biblioteca sobre Administração, que tinha organizado para treinar os funcionários públicos no Departamento de Serviço Público do governo do Estado de São Paulo, ato este que naquela época originou a atual FEA. Marcos Swenson Reis seu filho e herdeiro, ciente dessa expressão de vontade do pai promoveu a doação ao NJR-ECA/USP do Acervo José Reis, em março de 2004, selando assim, um desejo do divulgador científico. A Biblioteca José Reis formada ao longo de mais de oitenta anos, tem mais de 25 mil volumes e um acervo de pesquisa temática com mais de doze mil temas pesquisados organizados por disciplinas, bem como sua extensa produção de artigos e textos jornalísticos que somam mais de setenta anos de atuação como divulgador científico. A coleção e a pesquisa abrangem assuntos filosóficos a temas de pesquisas científicas contemporâneos até a sua morte em 2002. Certamente é a maior biblioteca sobre divulgação científica que se tem notícia no Brasil e o NJR-ECA/USP sente a responsabilidade desta doação.

Com essa doação o NJR redimensiona sua atuação na pesquisa na área da Divulgação Científica. Ao estudar criteriosamente esse material temos certeza da possibilidade de podermos encontrar as raízes da formação de um pensamento científico brasileiro próprio, nas marcas dos passos que o fundador da SBPC nos legou.

Hoje, para citar apenas nomes da comunidade da USP que participam do NJR, estamos recebendo diversas adesões que, pela interdisciplinaridade que a divulgação científica permite, querem contribuir de maneira produtiva nas questões que dizem respeito à divulgação científica. Contamos no nosso meio com as adesões dos Professores. Azis Ab-Saber, Maria Julieta Ormastroni, Nair Lemos Gonçalves, Antônio Brito da Cunha, José Jeremias de Oliveira, Franklin Leopoldo e Silva, Caetano Ernesto Plastino, Gildo Magalhães Santos, Amâncio Friaça, além de diversos outros professores, doutorandos, mestrandos e alunos de graduação que querem encontrar algum vínculo conosco.

Estão conosco, também, a presidente e o vice-presidente da Associasón Iberoamericana de Periodismo Científico, respectivamente os jornalistas Diana Cazeaux da Argentina e Dr. Júlio Abramczyk da Folha de S.Paulo, Brasil; o presidente do Consejo Superior de Ciencias e da Associasón Periodismo Científico da Espanha, o Prof. Dr. Manuel Calvo Hernando, o Prof. Dr. Michel Bergeron, editor da revista Médicine & Sciences e professor de medicina da Universidade de Montreal, Canadá, o Prof. Dr. Michel Paty, diretor de Pesquisa do Centre Nationelle de la Recherche Scientifique, França, o Prof. Dr. Etienne Delacroix, físico pesquisador do Massachusetts Institute of Technology-MIT e há outras diversas manifestações de apoio de instituições e intelectuais que continuamos a receber.

Ressaltamos também a nossa participação na comunidade USP com a produção de nossos programas de Divulgação Científica pela emissora desta Universidade. Trata-se dos programas “O Teatro do Mundo – a Canção”, produzido e levado ao ar por Ciro Marcondes Filho, às terças-feiras, às 12h30, e quintas-feiras, às 22h e “Cantores Bons de Bico”, com edição diária, por se tratar de um programa de curta duração, três minutos no máximo; as inserções ocorrem às 2, às 10 e às 16 horas. Esses programas representam o resultado prático das pesquisas de novas linguagens da divulgação científica em diversos meios comunicacionais.

Estas informações sumárias expressam as razões de importância que a divulgação científica vem assumindo no cenário nacional e internacional, fica muito clara a contribuição que esta modalidade de pesquisa assume. Ao lado da academia, nossas pesquisas buscam a melhoria da comunicação do produtor de conhecimento com uma parcela cada dia maior da população. Do lado social, as pesquisas dos discursos comunicacionais mostram que se deve estabelecer um canal aberto para promover, através do avanço científico, a melhoria de vida da população, que é a resposta aos grandes investimentos que a ciência recebe da sociedade, através de seus impostos.


O tema do qual eu me ocupo na pesquisa para um doutoramento no programa em História Social da FFLCH, sob orientação do Prof. Dr. Gildo Magalhães Santos provisóriamente tem o título de
Elementos constitutivos da formação da Consciência Científica no Século XX no Brasil pelo texto de Divulgação Científica de José Reis. Os dados dessa pesquisa serão obtidos a partir do Acervo de José Reis.


Abaixo o link de uma matéria recente realizado pelo usponline onde as ilustrações foram feitas a parir das fotos do mencionado Acervo.
http://http//www4.usp.br/index.php/ciencias/16239-nucleo-jose-reis-valoriza-a-divulgacao-da-ciencia-e-a-comunicacao-entre-as-areas

A título de apresentação retomamos um artigo onde, no curto relato que fizemos, se observa algumas das caracterísitcas desse monumental acervo de José Reis.

REVISTA ESPIRAL-TECNOTOPIAS

NJR/ECA/USP recebe o acervo de José Reis

Glória Kreinz
Osmir Nunes


No dia 2 de março de 2004, a família de José Reis, representada pelo filho Marcos Swenson Reis, respeitando a vontade do divulgador científico falecido em maio de 2002, doou oficialmente o seu acervo ao Núcleo José Reis de Divulgação Científica, centro de pesquisa da ECA/USP.
“O acervo tem um valor inestimável como documentação de momentos significativos para a cultura brasileira”, declarou o reitor da USP, prof. Adolpho José Melfi, quando recebeu os coordenadores do NJR, professores Crodowaldo Pavan e Glória Kreinz, em entrevista para lhe comunicar o fato, no dia 22 de março, na reitoria. O prof. Melfi fez ainda outras declarações, que serão transcritas e disponibilizadas no NJR.
A Biblioteca de José Reis, até a sua morte, ficava em dois endereços. Os arquivos de periódicos e livros menos utilizados ficavam no apartamento da Rua João Adolfo, no Centro da cidade de São Paulo ao lado da Ladeira da Memória. A outra parte ficava na sua residência, na Rua Joaquim Távora, 1398, na vila Mariana.
Com a doação verificou-se a necessidade de tratamento contra pragas que atacaram os livros e os documentos. Nos dias 18 e 19 de março foi realizada a mudança para o Instituto Biológico. O local foi escolhido para realizar os procedimentos técnicos de combate à praga – expurgo - para depois de pelo menos três a quatro meses de combate aos focos de infestação ter o acervo removido para a USP.
É difícil pensar num acervo de mais de 60.000 mil exemplares, onde tudo é valioso. Há curiosidades e escolhemos apenas uma delas para comentar superficialmente. Entre os diversos manuscritos que encontramos na Biblioteca de José Reis, destacam-se aqueles com a rubrica de “objeto de pesquisas” ou como simples “publicação de palestras feitas para orientação de jovens cientistas”. Nestes arquivos, livros quase prontos, não é possível identificar a data em que começaram a ser constituídos. Em estado de preparação constam os seguintes livros: Políticas nacionais de ciência e educação, Biografias de cientistas brasileiros, Os amadores e a ciência, Argumento e depoimento, Ciência da Ciência, Ensino da Ciência, Academia de Ciência de São Paulo. Em uma breve descrição deste material temos os seguintes elementos:
Políticas nacionais de ciência e educação
Trata-se de rascunhos de palestras, entremeados de muita bibliografia, recortes de diversas publicações nacionais e internacionais, e esquema de possíveis capítulos, alguns praticamente prontos; no material José Reis mesclou relatórios que fez para a UNESCO, em inglês, com alguns pareceres que foi solicitado a fazer durante sua vida para diversos organismos governamentais, introduções de livros e redações especiais que, com algumas alterações, estariam prontos para publicação.
Biografias de cientistas brasileiros
Este material está em pastas, divididas com diversos nomes, recheadas com indicações bibliográficas, na maior parte já com textos próprios publicados em um e outro artigo. Este material esta agrupado em três grandes partes: a) os pioneiros, onde se enquadram Oswaldo Cruz e toda sua escola. Também o grupo de professores do Colégio D.Pedro II – “uma coleção de grandes mestres das humanidades”; b) o pessoal de São Paulo, do Biológico e c) o grupo daqueles que influíram e influenciam o gosto pelas ciências. Aí tem até Santos Dummont e parte de um texto que fez para Ciência e Cultura. Há outros que não se enquadravam nos grupos anteriores e seria impossível de serem enquadrados como cientistas, como é o caso de Monteiro Lobato.
Os amadores e a ciência.
São arquivos onde estão muitas reportagens originadas quando criou o suplemento infantil “A Folhinha”, na condição de diretor de redação do jornal paulista Folha de S. Paulo. São reportagens elaboradas, na maioria das vezes, em ambientes de laboratório, ou em espaço com material propício para realização experiências com tema pré-determinado de uma disciplina. Por exemplo, para explicar algum fenômeno da física, como a inércia, eram convidados alguns alunos para irem praticar experiências vivas no IBECC.
A diretora do instituto e integrante atual da equipe do NJR, a profª. Maria Julieta Ormastronni, coordenava as atividades com um professor monitor, enquanto um fotógrafo fazia imagens. Por estar envolvido com essas situações simuladas era comum receber muitas correspondências de atividades parecidas, fartamente documentadas. José Reis guardou muitas delas. Ao lado dessas experiências José Reis sempre arquivou nomes e atuação daqueles que exerciam atividades científicas paralelas às suas atividades originais, nos diversos campos do saber. Este material estava bastante avançado para se realizar uma edição em livro, mas não foi publicado.
Argumento e depoimento
São palestras de orientação científica, nem tanto sob o ponto de vista técnico, mas focado em objetivos maiores, mostrando características da importância da ciência como contribuição à cidadania, isto é, a ciência como aliada do bem estar do homem. O que chama a atenção são as bibliografias arquivadas com forte referência em argumentos de caráter filosófico. Alguns dos textos, como nos outros casos destes arquivos, estão em palestras ou artigos publicados ora na revista Ciência e Cultura, ou em artigos desenvolvidos no jornal.
Ciência da Ciência
Há textos com argumentos de muitas leituras da filosofia da ciência. José Reis, em depoimentos, lamentava que não teve tempo, apesar da vida longa e da exaustiva produção, para fazer leituras na área da filosofia da ciência com a metodologia e dedicação que esta disciplina solicita. Ciência da Ciência – tem um artigo publicado em Ciência e Cultura, com este título – é um arquivo composto de um conjunto de textos, também publicados anteriormente, que possibilitam uma reflexão da própria ciência, sua origem, suas conceituações e seu destino.
Este arquivo é bastante minucioso nas suas subdivisões com muitos termos para serem conceituados e uma indexação de referência histórica farta. Ao publicá-los José Reis pretendia oferecer um rico álbum sobre ciência. Há sugestões de ilustrações.
Ensino da Ciência
Este arquivo, como esta planejado, propõe a edição de um manual que no seu prefácio trouxesse um estudo pedagógico da importância das ciências para a formação de novas gerações empenhadas na curiosidade do seu conhecimento. Nesta proposta editorial consta princípios e objetivos para a execução de ensino de qualidade nas escolas públicas. Ações educativas bem sucedidas, os rascunhos das pautas de assuntos que foram discutidos durante o tempo da Academia de Ciências do Estado de São Paulo estão lá, como lembretes bibliográficos. Chama a atenção um material, nestes arquivos, que contém idéias discutidas na Academia. Tratava-se de um espaço pedagógico que possibilitava experiências e observações científicas em todas as áreas do conhecimento, com livre acesso pelos estudantes. Havia outras informações correlatas, que anos depois, quando Crodowaldo Pavan assumiu o CNPq, tornaram-se realidade: trata-se da Estação Ciência. A identificação torna-se clara pelos folhetos da inauguração da estação que estão acondicionados juntos.
Academia de Ciência de São Paulo
Há também nesses arquivos “objetos de pesquisas”, e algumas referências constantes dos últimos tempos de atividades de José Reis. Entre eles está o grupo da Academia de Ciência de São Paulo, onde José Reis se alternou na presidência e vice-presidência com Crodowaldo Pavan, e na tesouraria e secretaria surgem os nomes de Sérgio Mascarenhas e Shigueo Watanabe. Estão guardados nessa parte alguns textos produzidos para as publicações que foram feitas para os livros da Academia, prefácios, etc.
Conforme se pode observar o material é vastíssimo, e o acervo representa uma conquista e também um desafio para toda a equipe do NJR, assim como para toda a comunidade interessada em divulgação científica. Há muita pesquisa para ser feita, muitos conceitos para serem discutidos, fatores estes que só fazem enriquecer a cultura brasileira.



Na nossa proposta básica consta o seguinte na forma de Objetivos:


OBJETIVO

Estudar a obra de José Reis tendo em vista a obtenção de elementos que esclareçam o que é, e no que se fundamenta o conceito de divulgação científica, ciência e política científica. De posse desses elementos organizadores, apresentar um quadro referencial que explicite, de forma sistematizada, conceitos que estruturam um ideário que contribuiu para a formação da Consciência Científica Histórica no seu tempo, isto é, no século XX


Tema básico:
A formação e a consolidação do conceito de política científica em textos de divulgação científica de José Reis.


Abrangência:
A pesquisa tem um campo de atuação bem definido. A investigação deve percorrer a produção de textos sobre divulgação científica de José Reis. Lembramos que o autor inicia sua produção em 15 de março de 1932, na Revista Chácaras & Quintais e se estende até 16 de maio de 2002, quando falece.


Objetivo geral:
Explicitar a contribuição de José Reis na formação de um conceito geral que auxilie a compreensão histórica dos caminhos que a ciência percorreu no Brasil no século XX. Desvendar os caminhos que José Reis desenvolveu para participar ativamente de um movimento para concretizar a fundação da SBPC.


Objetivos específicos:

Mostrar como os textos de divulgação científica, na imprensa, de José Reis irão estruturar uma linguagem que esta em acordo ou não com a comunidade científica da época.

Identificar uma teoria explicitada pela divulgação científica do que é ciência, formulada a partir de textos –metatextos - escritos pelo José Reis.

Tornar visível o trânsito do divulgador científico que faz uma ponte entre os meios de produção do conhecimento científico (laboratório) aos meios de comunicações (jornais e rádio).

Desvendar a contribuição democrática para a promoção da cidadania realizada pela divulgação científica, na forma de instrumento de popularização do conhecimento científico e o retorno de informações para os cientistas compreenderem o meio em que faziam sua ciência.

Explicitar o papel da Divulgação Científica, usada por José Reis, como meio de manutenção da ética no desenvolvimento do conhecimento científico.

Verificar até onde a Divulgação Científica exerce o papel crítico que torna o desenvolvimento científico um aliado para o desenvolvimento do bem estar da humanidade (qualidade de vida e ecologia), além de assegurar o futuro promissor da espécie.

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